Notícia no Ato

CRAS do bairro Popular capacita educadores para instrumentalização na prevenção ao suicídio

Estima-se que em torno de 75% das vítimas falam ou dão sinais de sua intenção e de sua dor

Com a modernidade infelizmente são crescentes os problemas sociais e emocionais, assolando as pessoas individual ou coletivamente. A violência, brigas, traumas e bloqueios de vida, frustrações pessoais e profissionais, decepções amorosas, enfim, o balaio de tormentos da sociedade incomoda e pode se tornar algo mais grave e ameaçar a vida. Em torno de 75% das vítimas falam ou dão sinais de sua intenção e de sua dor. O Setembro Amarelo lembra o Mês Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Ao pensar nestes problemas, profissionais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS I) Jandira Amorim, do bairro Popular, idealizaram capacitações para professores e diretores de escolas municipais e outros equipamentos em preparo ao acolhimento de demandas de ideação e de tentativa de suicídio, como prevenção e combate aos impasses. A finalidade são a instrumentalização e o fomento à possibilidade de intervenções e encaminhamentos implicados a partir de demandas urgentes.

Profissionais do corpo docente da Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Mutirão, no bairro Habitação, será a terceira turma a receber as instruções, na manhã desta terça-feira (20 de agosto), no encontro na sede do CRAS I. A programação seguirá até meio-dia. As abordagens de qualificação já foram feitas para educadores das Escolas de Educação Básica (E.E.B.) Zulmira Auta da Silva e Cora Batalha da Silveira. Todos os psicólogos, assistentes sociais, orientadores, facilitadores e cuidadores da Secretaria da Assistência Social e Habitação também já foram contemplados com a capacitação. Mais de 225 pessoas foram capacitadas.

O aperfeiçoamento consiste em uma iniciativa mobilizadora totalmente procedida pelo CRAS I do Popular. As técnicas palestrantes são duas psicólogas – Susane Couto Koche e Bruna Donde, e a convidada participante eventualmente, psicóloga Pamela Silva dos Santos, integrante da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Popular. “Nós construímos estes momentos e a gestão, através do Núcleo Municipal de Educação Permanente (Numep), observou a relevância e fomos convidados para capacitar todo o pessoal da Assistência Social e agora, como é nossa obrigação trabalhar no território, pretendemos capacitar todos os professores de todas as escolas do nosso território”, salienta a coordenadora do CRAS I, psicóloga Susane Couto Koche.

Por que tocar na ferida?

O tema da prevenção ao suicídio foi escolhido diante de uma demanda apresentada naquele território, onde ocorreu o registro de um caso de suicídio de aluno de uma das escolas da área, e as professoras, diretoras e alunos ficaram extremamente fragilizados. “A demanda foi trazida para o CRAS, enquanto proteção básica e, com a equipe mínima que temos hoje, pensamos como vamos poder intervir de alguma forma, acolhendo a demanda, já que a Educação infelizmente não conta com psicólogos na sua área”, analisa a coordenadora do CRAS I, psicóloga Susane Couto Koche.

A especialista esclarece, ainda, que as diretoras foram chamadas, foi realizada uma reunião e disponibilizado o trabalho. “E a partir daí montamos todo um período de atividades, que vai desde a contextualização do tema e dados estatísticos, até exemplos salutares relacionados ao assunto. Elaboramos um fluxograma, o qual explica de forma pormenorizada o que fazer e como fazer o acolhimento em cada caso de ideação ou tentativa. Todos nós profissionais das políticas públicas, somos responsáveis, não só a Assistência Social, mas a Saúde e Educação, tratando a questão da melhor forma possível”, pontua a coordenadora Susane.

Primeiramente é crucial compreender o problema e alinhar as ideias para ajudar o próximo. “A gente instrumentaliza estes professores e diretores para lidarem com o fenômeno e poderem fazer um encaminhamento assertivo, eficaz e rápido a fim de poupar vidas.”

Todo cuidado é pouco, com a vítima e as famílias

Além das capacitações, o CRAS I oportuniza acompanhamento às famílias, àquelas que porventura têm crianças ou adolescentes como seus filhos ou parentes que cometeram lesões, tiveram ideações, ou mesmo ameaças, ou suicídio de fato. Os chamados sobreviventes, familiares e pessoas próximas passam por acompanhamento no sentido de acolher, vincular e atender de forma sistemática nas suas necessidades, com o objetivo de ressignificação e criação de alternativas para continuarem vivendo sua rotina depois deste momento tão trágico e especial. “A discussão crítica que nós fazemos sobre o problematizador é entendermos ser o suicídio um fenômeno complexo, histórico, biopsicossocial e que precisa ser analisado de uma maneira específica. Existem os fatores disparadores para o suicídio, mas jamais podem ser reconhecidos como única causa, porque este fenômeno é multicausal, e muitas vezes o indivíduo traz na sua historia todo um sofrimento e complicações que vão norteando este caminho. Mas mais uma vez este fator não é apenas familiar, é cultural, de uma sociedade e de um local, com um aspecto territorial, por isto multifacetado”, expande a observação a coordenadora Susane.

Por fim, sublinha-se os sinais dados pelas vítimas emocionais e psicológicas, com braços abertos e amparo de atenção. “A gente compreende o quanto é difícil explicar este fenômeno, entretanto, indispensável problematizá-lo e trazer à tona, para que possamos sim nos instrumentalizarmos para receber os casos de autolesão, em que os adolescentes se cortam, falam que não têm vontade de viver, e que desejam a morte como solução. Todas as pessoas, principalmente trabalhadores, saber como lidar sem julgamento e sem preconceito, sem proferir palavras que ao invés de auxiliar, deixam isso mais forte ainda, com agravantes, um problema presente na contemporaneidade e deve ser encarado de frente”, acrescenta a psicóloga.

Sete bairros e 4.460 famílias cadastradas

O Centro de Referência do Popular está abrigado no território de sua abrangência, formado por sete bairros: Caravágio, Habitação, Várzea, Popular, Ferrovia, Universitário e Caça e Tiro. O CRAS I está localizado na rua Lauro Liz Costa, Popular, e presta atendimento aos cidadãos de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, sem intervalo para almoço. Contato: 3221-1082.

O CRAS do bairro Popular conta com cerca de 4.460 famílias cadastradas. Aproximadamente 70 crianças e adolescentes frequentam o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), além do público de idosos, contabilizando em torno de 110 pessoas atendidas mensalmente nos SCFV. Além disto, o CRAS I mantém grupos do Serviço de Proteção e Atendimento Integral às Famílias (Paif), com encontros quinzenais.

O CRAS I oferece dois tipos de serviço: O carro-chefe é o trabalho social com as famílias através do Paif. Estão em acompanhamento cerca de 150 famílias, e seus membros participam do SCFV. Portanto, todos os integrantes podem participar dos grupos, em que são contemplados crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Texto: Daniele Mendes de Melo/Fotos: Toninho Vieira

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