Notícia no Ato

Dia e Semana do Artesanato evidenciam o trabalho de artesãs e artesãos de Lages

A lei 4410/2019 instituiu o Dia e a Semana do Artesanato no Munícipio de Lages, respectivamente, comemorado em 19 de março e na semana que compreende a data. A legislação surgiu de uma iniciativa proposta pelo vereador Enio do Vime (PSD), aprovada por unanimidade na Câmara de Lages e sancionada pela Prefeitura em dezembro de 2019. Para celebrar este momento, o Poder Legislativo Lageano promoveu uma sessão especial sobre o tema no dia 13.


A lei impõe que o Dia e a Semana do Artesanato sejam datas para “fortalecer, apoiar e incentivar o desenvolvimento do artesanato e suas formas associativas e cooperativas de produção, gestão, comercialização, realização de feiras, de oficinas e de exposições dos produtos; incentivar a criação de políticas públicas para o fortalecimento da produção do artesanato; viabilizar, profissionalizar, conscientizar e ofertar alternativas para o artesão; debater com os artesões questões relacionadas ao tema e seu desenvolvimento e informar a população sobre a importância do artesão para a economia local”. Para isso, o Poder Executivo poderá promover atividades e eventos como palestras, cursos e seminários visando ampliar o acesso às ações de apoio ao artesanato e aos artesões de Lages.

Também de autoria de Enio do Vime, a sessão reforça a importância da data. “Este momento é para dar visibilidade e publicidade à lei que instituiu em Lages o Dia e Semana do Artesanato. O papel não faz diferença na vida de ninguém, precisamos ir para a prática. (…) O corpo dessa lei pode ser trabalhado para ajudar as pessoas que vivem do artesanato, gostam disso e sustentam suas famílias”, defendeu o proponente, que estima serem mais de 500 pessoas a sobreviver do artesanato na cidade.

“Sou um artesão nato, me formei nisso e construí minha vida a partir do vime. Sei o quanto é difícil ter apoio e estrutura suficiente para expor e comercializar o produto, é um trabalho artesanal, com uma qualidade muito grande e que necessita de uma exposição maior, de espaços para comercialização e a criação de mais feiras, como sugerimos na praça do Calçadão e com uma tenda fixa na praça do Terminal”, aponta Enio, que ainda evidenciou o fato de alguns artesãos exporem produtos no Espaço Malinverni Filho, na entrada da Câmara (veja a galeria de fotos abaixo).

Poder público tem contribuído com cursos nos bairros, espaços de comércio e credenciamento via editais

Secretária municipal de Assistência Social, Claudia Bassin acredita que a próxima semana será festiva e de muito significado, dado ao trabalho artesanal produzido por aqui. “Dia 19 vamos realizar uma grande feira para marcar essa data, reunindo várias artesãs e artesãos ao longo do dia, das 9 às 17 horas, no Calçadão. Vamos colocar uma música para animar ainda mais o público para que vejam todo o potencial desse trabalho maravilhoso”, comenta.

Ela afirma que a pasta tem feito o possível para oferecer suporte técnico e financeiro aos artesãos, mas ressalta a necessidade de organização para que a classe acesse ainda mais recursos disponibilizados em editais. “Lages é referência na arte do artesão, vemos artes maravilhosas de várias formas, como a da Tramatusa, sucesso em todo o país e com peças no exterior. É um grupo que demonstra que a organização dá resultado”.

Claudia destacou os cursos desenvolvidos em 30 bairros pela Assistência Social como exemplo de fomento à cultura e de resguardo do direito ao convívio comunitário dos moradores. Falou também sobre os espaços Terra Nossa, disponibilizados na praça João Costa (Calçadão) e no Mercado Público, sendo uma loja destinada para comercialização das obras com características regionais e outra às artes feitas nos bairros durante os cursos. As artesãs participantes são selecionadas via edital para expor e comercializar seus produtos e obter renda.

Desde 2017 à frente da Fundação Cultural de Lages, Gilberto Ronconi disse que sempre esteve em contato com o pessoal do artesanato, especialmente na disponibilização de editais para participação em eventos como o Recanto do Pinhão e o Natal Felicidade, os quais apresentam resultados positivos à classe, segundo ele. Ele também comemora o fato de que, após muitos anos, o artesanato local tenha um espaço assegurado, via edital, para vendas de produtos e a realização de mostras na 34ª Festa Nacional do Pinhão, dentro do Shoppinhão.

O superintendente da FCL crê que o dinheiro proveniente da Lei Paulo Gustavo, de emergência à Cultura, será repassado aos artistas locais até o dia 30 de maio. É uma receita federal superior a R$ 1.420 milhão que deve entrar na economia lageana. “Foram inscritos mais de cem projetos nas áreas de música, dança, teatro, artesanato, tradicionalistas. Os projetos estão sendo analisados por pareceristas contratados de fora para o resultado ser o mais imparcial possível”, pontua Giba.

Outra iniciativa de socorro à classe artística idealizada em meio à pandemia foi a Lei Aldir Blanc, dos quais muitos projetos contemplados em Lages foram na área do artesanato. O superintendente afirma que o Município está apto a receber mais R$ 1.120 milhão, da Lei Aldir Blanc II. “Acredito que até julho este dinheiro esteja na conta e estaremos lançando um novo edital para premiar artistas das diversas áreas. Já convoco vocês para ficarem atentas e colocar em prática toda a criatividade e talento que têm”. Giba, no entanto, alerta para que todos os trâmites legais do edital até à prestação de contas sejam seguidos, sob pena dos artistas ficarem impossibilitados de acessar novos recursos e até mesmo ele próprio seja responsabilizado enquanto gestor público da área.

Até há pouco tempo ocupando o cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, o vereador Álvaro Joinha (Progressistas) conta que em três anos o número de Microempreendedores Individuais (MEI’s) mais do que dobrou em Lages (6.093 para 14.278), muitos dos quais artesãos. Ele reforça que a Secretaria, através do Banco da Família, fornece até três empréstimos de R$ 5 mil a juros zero para que os MEI’s possam investir em seu trabalho, gerar emprego e renda em Lages.

Citou ainda a emenda parlamentar destinada pelo senador Esperidião Amim, que após um longo trâmite burocrático, está sendo usada na reforma nos dois Centros de Informação ao Turista (Citur), localizados na BR-282 e na entrada da avenida Duque de Caxias. “A Central da 282 pode ser um ponto de comercialização para vocês. Temos um fluxo grande de turistas que vão para o litoral, vem curtir a Serra Catarinenses e eles querem parar, usar um banheiro, internet, fraldário, querem conversar, se informar. Se tivermos um ponto chamativo, pode ser uma forma de auxiliá-los na comercialização de seus produtos”, sugere Joinha.

Artesãs comemoram uma data específica, mas cobram mais espaço para comercialização e nos processos de decisão

Para a artesã do coletivo Mulheres Empreendedoras, Simone Cardias de Noronha, uma data como essa é de grande importância, uma vez que a cultura é determinante para elevar a cidade a outros patamares econômicos e de desenvolvimento. Ela cita como referência as artesãs da Tramatusa, que levaram a fita (tusa) além de Lages, evidenciando o conceito de sustentabilidade. “Temos que trabalhar com este signo da natureza regional valiosa para construir um trabalho artesanal diferenciado”, indica a artesã.

O grupo ao qual representa teve origem nas feirinhas da praça Joca Neves e chegou a ter 63 expositores. Simone elenca outros três muito ativos na construção do artesanato em Lages: Tramatusa, Pontos e Artes Artesanato e Artesãos da Serra. “Eu acredito na união dos grupos que trabalham com artesanato na cidade, quanto mais expositores, mais diversidade, atenção e importância vai despertar para determinado evento. Feira boa é feira grande”, garante.

Simone pediu que os artesãos sejam consultados e possam ter mais espaços para ajudar a construir os editais de cultura. “Sabemos que a Festa do Pinhão é privada, mas também sabemos que o Recanto do Pinhão é do município. Então gostaria de solicitar um espaço maior para estes grupos, como o calçadão Túlio de Fiuza, para mostrar a complexidade do trabalho. Ele é mais valorizado quando a gente mostra na própria banca como se faz”. Ela entende que nos 32 anos onde a feira ali funcionou, o comércio formal não foi prejudicado, mas propõe a criação de um diálogo com a CDL para ver quais produtos são viáveis para comercializar e até qual ponto podem utilizar, por exemplo.

O grupo Pontos e Artes Artesanato tem cerca de 50 artesãos que trabalham com madeira, panos de prato, reaproveitamento de materiais, crochês, tricôs, etc. Ele também surgiu das feiras realizadas na Joca Neves, mas como essa só acontecia uma vez por mês, decidiram criar um grupo e se organizar para encontrar novos espaços de comercialização. “Fomos até a Secretaria de Meio Ambiente e pensamos na Catedral, porque é um lugar central, com grande movimentação de pessoas, de turistas que querem conhecer a cidade, então ali nos instalamos e somos conhecidos como a Feirinha da Catedral”, relata a artesã Rosana Aparecida Rodrigues.

Rosana produz aromas em sachês, sais de banhos, sabonetes, difusores, entre outras formas que ela considere como arte, por conta do processo produtivo e do experimento único proporcionado ao cliente. “Saí de uma depressão para produzir este artesanato, essa manualidade, e hoje estou bem, podendo ajudar outras pessoas”, conta a artesã, que continua: “Nosso sonho é dispor de um espaço permanentemente para expor nossos produtos e artes e assim termos uma referência de localização para os turistas que procuram saber sobre os artesanatos da cidade”. Ainda citou Raul Seixas: “Sonho que sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”.

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