A Cáritas Diocesana de Lages está desenvolvendo o projeto “Prevenção e Enfrentamento às Violências contra a Pessoa Idosa”, em parceria com a rede de atendimento do município. O projeto busca a valorização da pessoa idosa, a prevenção de vários tipos de violências, promoção da escuta e do diálogo de pessoas idosas em situação de vulnerabilidade e realização de encaminhamentos das situações de violações de direitos à rede de atendimento.
Com um olhar a partir das narrativas e histórias de vida, leitura de mundo, diálogo e amorosidade nas relações estabelecidas, estão sendo realizadas Rodas de Conversa com as pessoas idosas gerando um espaço de acolhimento, convivência e escuta, abordando temas e vivências de interesse comum, escutando suas queixas, histórias, desabafos, identificando possíveis violências sofridas, as quais deverão ser encaminhadas para atendimento na rede municipal de serviços socioassistenciais, na busca da superação das mesmas.
Já foram realizadas rodas de conversa em todos os bairros que estão recebendo o projeto, e as pessoas idosas estão sendo bastante participativas. No mês de agosto ocorreram treze rodas de conversa, nos bairros Centenário, Guarujá, Morro do Posto, Araucária, Várzea, Santa Helena, Bela Vista, Santa Mônica e Habitação.
A equipe, integrada por duas assistentes sociais, uma advogada, um advogado e uma comunicadora conduz todo o processo, que além das rodas de conversa, prevê uma campanha de conscientização e prevenção à violência contra a pessoa idosa e também um seminário municipal em parceria com a rede de atendimento, para devolutiva, avaliação e sistematização das experiências vivenciadas pelo projeto.
Utilizando dinâmicas de grupo, canções, objetos antigos e papel colorido, a equipe está, inicialmente, estabelecendo vínculos e trabalhando na valorização da pessoa idosa e de suas memórias. “Estamos utilizando o baú das alegrias e o baú das tristezas, para que eles consigam verbalizar situações que os alegram e situações que os entristecem”, explica a coordenadora do projeto e assistente social da Cáritas, Maria Aparecida Fonseca. Os encontros estão ocorrendo em dez núcleos – nos CRAS, CREAS, Centro Dia do Idoso e Grupo Conviver – através da Secretaria de Assistência Social. Um dos núcleos, do bairro Araucária, foi pactuado com a própria Associação de Moradores.
As rodas estão acontecendo quinzenalmente, conforme segue:
1- Habitação (Salão da Igreja São Francisco) – segundas às 14h;
2- Várzea (Salão da Igreja próximo à UBS) – segundas às 15h30;
3- Guarujá (Guarujá Social) – terças às 15h30;
4- Santa Mônica (CRAS V) – terças às 14h;
5- Santa Helena (Salão da Igreja) – quartas às 9h;
6- Bela Vista (CRAS VI) – quartas às 14h;
7- São Pedro (Salão da Igreja) – quinta às 14h;
8- Centro Dia do Idoso – Grupo 1 – quintas às 14h;
9- Centro Dia do Idoso – Grupo 2 – sextas às 14h.
10- Araucária (Associação de Moradores) – sextas às 16h30.
Algumas falas dos idosos
A dinâmica do baú da alegria motiva os idosos a colocarem no baú coisas boas e positivas. No Centro Dia do Idoso, Dona Lourdes, de 101 anos, partilhou na roda de conversa o que gostaria de colocar no baú: “saúde felicidade, e tudo de bom!”. Sua colega de 74 anos acrescentou: “eu quero colocar tudo de bom pra mim, para a minha família e para as minhas amigas…”. A senhora de 76 anos, sentada na poltrona ao lado, exclamou: “Quero colocar a melhoria na minha vida, e melhoria na vida dos meus filhos, também. Em tudo! No geral”.
Dona Inês, de 82 anos e frequentadora assídua do Centro Dia do Idoso (CDI), muito amorosa com as profissionais do CRAS, disse: “quero colocar a humildade, o amor pra todos nós, por que nós somos todos iguais… Pode que um tem um pouco mais de estudo, mas corte o dedo aqui pra ver se o sangue não é o mesmo? Então nós temos que ser humilde, e dar as mãos… fico esperando a semana inteira pra chegar o dia de vir para cá; eu adoro vir pra cá, é um dia muito feliz”.
No baú das coisas ruins, os idosos guardaram a dor, solidão, tristeza, doenças e a falta de esperança. A preocupação de dona Judith, do bairro São Pedro, é com as pessoas de rua: “Que o povo tenha o que comer… que não tenha fome… Que as pessoas não precisem viver na rua… Que Deus dê uma cantinho pra cada um… ontem era duas horas da madrugada e ali na Pracinha da Joca Neves tinha um sentado e um cachorro do lado, com aquele frio” ela reforça, com os olhos cheios de lágrimas.
Até o final do ano, a Cáritas estará realizando quinzenalmente rodas de conversa nos dez núcleos já estabelecidos com a rede municipal de atendimento, ou com Associação de Moradores. Serão aproximadamente 20 rodas de conversa por mês, envolvendo mensalmente, cerca de 300 idosos.
Texto: Adriana Palumbo Rodrigues
Fotos: Adriana Palumbo e Carol Sott