Notícia no Ato

Campanha de solidariedade e carinho em forma de doações ao Rio Grande do Sul segue em andamento até sexta-feira em Lages

Mais de 200 toneladas já viajaram ao Rio Grande do Sul em três dias com o total de 11 deslocamentos de carretas

Uma onda de empatia, altruísmo, fraternidade, amor e respeito tomou conta de Lages em consequência da catástrofe climática com as tempestades e enchentes que atingiram o estado do Rio Grande do Sul na semana passada – desde os últimos dias de abril até início de maio. São inúmeros voluntários, resgatados e abrigados que revelam o drama de passar por temporais sem precedentes.

A tragédia meteorológica histórica provocou 95 mortes, outras quatro mortes em investigação, 128 pessoas desaparecidas e outras 372 feridas (dados de até a manhã de quarta-feira – 8 de maio). Há 225,4 mil pessoas fora de casa. Deste total, são 66,4 mil em abrigos e 158,9 mil desalojados (pessoas que estão nas casas de familiares ou amigos).

O Rio Grande do Sul possui 414 dos seus 497 municípios com algum relato de problema relacionado ao temporal, como Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Porto Alegre, Santa Maria, Soledade e Três Coroas. Do total, 336 tiveram estado de calamidade pública reconhecido pelos governos estadual e federal. Em torno de 1,4 milhão de pessoas foram afetadas pelas chuvas e enxurradas.

A fatalidade dos gaúchos comoveu lageanos e demais catarinenses, e imediatamente doações começaram a chegar em uma verdadeira corrente do bem. Grupos especiais treinados para tais eventos, aeronaves, drones, estruturação de doações, hospitais de campanha. O ser humano e sua capacidade de transformar a vida do seu semelhante.

Volumes superiores a 200 mil quilos em mais de dez viagens de carreta pelas rodovias

A aproximadamente 60 quilômetros de distância da divisa com o estado do Rio Grande do Sul, habitantes do município mais populoso da Serra Catarinense se dão as mãos junto a moradores de cidades vizinhas e se unem para ajudar os gaúchos. Por iniciativa do comunicador e influencer digital, Biguá Júnior, dono do perfil Biguá Tá On, no Instagram, uma operação especial de mobilização foi planejada, estruturada e montada às pressas para receber, concentrar e transportar produtos de donativos até as pessoas e famílias assoladas pelas tempestades no Rio Grande do Sul.

A corrente de solidariedade e esforços movimentou cidadãos comuns; estudantes; profissionais e empresas de pequeno, médio e grande porte para a arrecadação de doações, seleção/separação de recebimentos, descarregamento de veículos com doações, carregamento de veículos com destino à estrada, logística e alimentação de pessoas voluntárias, como marmitas de almoço, lanches (hambúrguer) e pizzas.

O local escolhido foi o CentroSerra Convention Center, bairro Universitário, um dos maiores ambientes de eventos de Lages, aberto especialmente das 9h às 20h, ininterruptamente.

Mais de 200 toneladas já viajaram ao Rio Grande do Sul em três dias com o total de 11 deslocamentos de carretas (até esta quarta-feira – as quatro primeiras saíram de Lages na segunda-feira), sendo distribuídas para pessoas de cidades, como a capital Porto Alegre, São Leopoldo, Canoas, Lajeado, Sobradinho, Alvorada e Viamão.  

Na totalidade são 12 caminhões carreta cedidos por empresas privadas voluntárias; cinco caminhões de categorias variadas, como baú/furgão; cinco máquinas empilhadeiras; caminhonetas; pick-ups, e automóveis. Além destes meios, três aviões particulares já realizaram três voos (até esta quarta-feira – 8 de maio) até o destino dos donativos.

Mil voluntários

Mais de mil pessoas voluntárias já passaram pelo CentroSerra desde que foi aberto o recebimento de doações, no sábado (4), uma série de pessoas jurídicas (empresas) estão contribuindo com a campanha, incluindo de outras cidades da Serra Catarinense. Ou por intermédio de voluntariado dentro do CentroSerra ou a partir da cessão de dispositivos de logística e motoristas.

Instituições públicas, como o Exército Brasileiro (1º Batalhão Ferroviário – BFv), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Polícia Militar (PM) – Cavalaria, e sem fins lucrativos, como a Igreja Comunidade Cristã e Igreja Adventista, colaboram diretamente dentro do centro de eventos. Melany Machado e Adriano Cardoso estão entre os cidadãos voluntários nesta empreitada.

Defesa Civil Municipal presente com 14 agentes

Desde esta terça-feira (7), 14 agentes da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) prestam suporte prático no CentroSerra Convention Center, conforme aponta o agente e coordenador, Fabrício Vieira. “Estaremos a postos nesta tarefa até a próxima sexta-feira, em favor da comunidade.” Na terça-feira (8 de maio) houve a atuação de mais três agentes voluntários de Defesa Civil, adequadamente capacitados para eventos adversos e respaldo. Da parte da prefeitura, assim como a Defesa Civil, estão no desempenho do voluntariado, no CentroSerra, membros da Secretaria de Serviços Públicos e Fundação Municipal de Esportes (FME).

O vice-prefeito de Lages, Juliano Polese, passou pelo centro de eventos na manhã de quarta-feira (8). “Todos, sem distinção, temos de nos juntar nessa missão de estar ao lado das pessoas que sofrem com os impactos das chuvas no nosso querido Rio Grande do Sul, pelo afeto, pela vida.”

Ninguém tem tão pouco que não possa dividir: O que você pode doar?

Doações chegam de vários cantos, não somente de Lages, mas de Capão Alto, Correia Pinto, Otacílio Costa, Itapema, Florianópolis e Rio do Sul. No montante de doações podem ser visualizadas malas de viagem e lavadora a jato. Os itens são devidamente preparados e alinhados em estrados de madeira (pallets) após compactados com fita adesiva para embalagem. Pallets e fitas cedidas por voluntários.

Volumes e mais volumes de alimentos não-perecíveis: Pacotes de arroz, feijão, macarrão, fubá, farinha de mandioca, café e açúcar; frascos de óleo de soja; caixas de leite, e fardos de água. São doadas cestas básicas prontas e itens avulsos, que são montados em kits pelos voluntários para facilitar no propósito da hora da entrega.

  • Pacotes de ração para cães e gatos são bem-vindos.
  • Elementos de higiene pessoal: Papel higiênico, fralda infantil e geriátrica, absorvente íntimo, sabonete, creme dental.
  • Itens de limpeza doméstica: Detergente, sabão em pó, desinfetante, água sanitária, esponja, vassoura, balde. bb
  • Banho e cama: Toalha, lençol, fronha, cobertor, cobertor, edredom, travesseiro, colchão
  • Roupas infantis e adultas em bom estado de conservação, sem furos e rasgos, descosturadas ou sujas.
  • Agasalhos
  • Roupas íntimas
  • Calçados em bom estado de preservação, sem furos ou rasgos.

Quem precisa tem pressa em receber – CentroSerra segue aberto a doações 

As pessoas interessadas em prestar seu auxílio e direcionar doações podem levar os itens ao CentroSerra Convention Center até esta sexta-feira (10), às 21h.

O que está em falta nas doações?

Entre os inúmeros tipos de itens que podem ser submetidos à angariação, em razão de ser não-perecível e resistente ao transporte, alguns se esgotam e devem ser repostos com frequência e urgência, como medicamentos, a exemplo de remédios de combate à dor (analgésico), febre (antitérmico) e controle de hipertensão, diabetes e colesterol, estabilizando índices. Caixas ou cartelas e frascos devem estar totalmente intactos e completos.

Artigos de primeiros-socorros também podem ser levados ao CentroSerra Convention Center: Material para curativo – algodão, gaze, esparadrapo, atadura de crepe, caixa de curativo adesivo, e medicamentos – soro fisiológico.

Crianças, pré-adolescentes e adolescentes necessitam de brinquedos pedagógicos e de diversão e distração. Já as crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) precisam de abafadores de som, brinquedos e utensílios, como o cordão e crachá de padrão internacional de identificação com estampa de quebra-cabeça. E pessoas com deficiências ocultas necessitam do cordão de girassol, como as autistas.  

Garrafas de água são indispensáveis, lembrando que há depoimentos sobre a escassez de água mineral nas prateleiras de supermercados em Lages.

A força da Internet

Com o perfil @biguataon ativo no Instagram desde 2019, Biguá já acumula um cenário com 109 mil seguidores. O jovem de 31 anos e a esposa, Melany Machado, encamparam a causa e estão de mangas arregaçadas desde as primeiras notícias do desastre.

A compaixão deu lugar à proatividade. A lágrima, às mãos que servem. “O que a gente presencia aqui é um sentimento inexplicável, imensurável. Pessoas que chegam com a família, crianças, com sede de cooperar com o próximo por estar se colocando no lugar do outro incondicionalmente. Nesta situação precisamos assumir um papel de líder no processo da campanha e fazer este plantio para que nossos irmãos do Rio Grande possam ter mais conforto, alívio, uma realidade mais digna frente a todo este caos repentino em suas vidas. Os lageanos e serranos ‘deram’ um show de exemplo e acreditamos no recomeço da história destas pessoas que, mesmo nossas desconhecidas, já estão em nossos corações”, desabafa Biguá, que esteve em Porto Alegre nesta terça-feira (7), a delinear os novos repasses e acompanhar e apoiar as atividades, e acrescenta: “Procurar fazer as coisas com credibilidade e excelência, pois todo este trabalho depende de organização, seriedade e sintonia entre os envolvidos. Tudo necessita funcionar direitinho para que haja agilidade e os produtos básicos cheguem logo a quem está na agonia da espera.”

Impossível não ser tocado. Imagens da Força Aérea Brasileira (FAB) com registros de resgates impressionantes por helicópteros “viralizam” a todo instante nas redes sociais virtuais. Cenas a quilômetros de distância, porém, capazes de movimentar o Brasil do Oiapoque ao Chuí em campanhas simultâneas. “Cada pessoa que vem aqui relata algum tipo de vínculo, conexão com o Rio Grande do Sul. Esteve conosco um senhor morador de Lages que tem uma filha em Pelotas. As águas a cercaram e ela acabou ficando ilhada. Mesmo sendo afetada, buscou energia para ajudar outras pessoas atingidas pelas chuvas. A solidariedade é um círculo de bondade”, revela a voluntária e esposa de Biguá, Melany Machado. “A gente acaba lembrando do filho que a gente tem em casa, o Isaac, de três anos, e nos colocamos no lugar de dor dessas mães, pais. Não ser individualista, ou egoísta, pensar na outra pessoa. Agradecer pelas coisas simples do dia a dia, sobre as quais nem damos tanta importância no dia a dia por parecerem triviais”, confessa, emocionada.

A inspiração para auxiliar as pessoas surgiu da sensação de ser útil às pessoas. Em 2023, o casal Biguá e Melany cedeu o cômodo da garagem de sua casa para abrigar doações a serem enviadas a famílias assoladas por uma grande enchente em Lages. Na época, as doações foram crescentes e foram encaminhadas à Praça do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU) – Estação Cidadania por intermédio da Secretaria da Assistência Social.

A discreta dentista e seu gesto gigante

Natural de Xanxerê e residente em Lages há muitos anos, a dentista Silvia (prefere ser identificada sem o sobrenome), estava desde às 8h30 da manhã desta quarta-feira (8), compenetrada no que fazia. Com cuidado, separava peças de vestuário por gênero e tamanho no CentroSerra. “Eu ajudaria qualquer estado, qualquer local do país. Nesta hora devemos deixar as diferenças pra lá e cada um fazer a parte que melhor julgar ser. Nós que temos saúde e disposição devemos olhar as outras pessoas e dar um pouco de si, dedicar momentos a se dispor aos irmãos”, defende Sílvia, que levou dez sacolas com doações de roupas e materiais de higiene, limpeza, cama e banho a pontos de arrecadação.

Outros mecanismos de ajudar o Rio Grande do Sul

  • Ponto de doações: Defesa Civil de Lages – segundo pavimento do Terminal Rodoviário Dom Honorato Piazera, bairro Universitário
  • Ponto de apoio: Transportadora Zappellini – Rodovia BR-116, Km 246, nº: 4.200, bairro Área Industrial
  • PIX SOS Rio Grande do Sul – Chave (CNPJ): 92.958.800/0001-38
  • Instituição: Banrisul
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